domingo, 12 de outubro de 2014

terça-feira, 30 de setembro de 2014

It's the economy, stupid!

Um dos tópicos que economistas e cientistas políticos compartilham é a relação entre ciclo eleitoral e ciclo econômico. Perceba, é até intuitiva a ideia de que uma boa média de crescimento do PIB favoreça a avaliação de quem está no poder.  Pois é! Cruzei os dados da avaliação dos presidentes (último ano do mandato, no mês de agosto), desde o Collor* até a Dilma, com o crescimento médio do PIB nos quatro trimestres antes da pesquisa. A correlação é bastante forte e positiva.
O campeão de aprovação é o segundo mandato do Lula. Em agosto de 2010 ele teve 79% de aprovação e saiu da presidência da república com 83% dos brasileiros avaliando seu governo como ótimo ou bom. A essa altura, você já deve estar associando essa aprovação impressionante com o excelente crescimento do PIB no ano de 2010 (7,5%). 


Bom, já sobre reeleição... Nos casos do primeiro governo FHC e do governo Dilma, tanto o nível de aprovação quanto a média de crescimento do PIB estão próximos (aprovação: 39% FHC; 35% Dilma/crescimento do PIB: 1,8% FHC; 1,4% Dilma). E, se você não lembra, FHC levou no primeiro turno**. Isso quer dizer que a Dilma leva no primeiro turno? Sei lá!
Segundo nossa regressão marota/espúria (clica no gráfico), se o crescimento médio do PIB entre 2013-T3 e 2014-T2 tivesse sido a metade do que foi (ou seja, de 0,7%), a aprovação do governo Dilma seria algo em torno de 23%. Com 23% de aprovação, o FHC não conseguiu eleger o José Serra em 2002. O que isso quer dizer? Provavelmente, nada! ( Ou o que deveria ter acontecido para que a oposição pudesse vencer a disputa esse ano/que só não há reeleição quando o ciclo econômico é muito, muito ruim/que a Dilma teve sorte/que a máquina pública ajuda demais na reeleição)Claro, partindo do pressuposto que 23% de aprovação é limiar de alguma coisa. 

* Coloquei o Collor só para ele não ficar bolado comigo. A última pesquisa de avaliação do governo dele foi em junho de 1992, ou seja, contaminou ainda mais minha minúscula amostra. Os dados são do Datafolha.
** Em tempo: a última avaliação ruim/péssimo do governo Dilma é de 26%, contra 18% do FHC em agosto de 1998.
Mais sobre ciclo eleitoral num futuro próximo. Comente!!

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Mais uma vez sobre a independência do Banco Central*

Muita gente inteligente falou sobre isso (aqui, aqui, aqui, etc.), talvez assunto já ultrapassado. Porém, o Leruaite tem que voltar das férias. E começa falando sobre o Banco Central de modo um pouco diferente.

No passado

Um caso bastante estudado na literatura econômica é a existência de “dominância fiscal” (toma-se, aqui, a visão tradicional, de Sargent e Wallace (1981)). Por exemplo, para atender os desejos de determinados grupos políticos, por miopia, por populismo econômico – medidas que enfatizam o crescimento e distribuição de renda em detrimento dos riscos de inflação, restrições externas e necessidades de financiamento do setor público –, entre outros motivos, o setor público gera sucessivos déficits orçamentários. Esse quadro de deterioração fiscal pode suscitar uma perspectiva de calote (aqui) e provocar uma taxa de juros maior que a de crescimento econômico que, somada aos déficits fiscais persistentes, cria uma trajetória explosiva para a dívida, impossibilitando o financiamento do setor público via mercado de títulos. Na fase final desse processo, a autoridade monetária é forçada a criar moeda de forma a gerar receita para o governo cobrir suas necessidades de financiamento – a tal da senhoriagem, um dos principais elementos responsáveis pela inflação de longo prazo.
Pois é! A senhoriagem, no passado não muito distante, teve papel relevante no financiamento do setor público brasileiro (Pastore (1994), Rocha (1997)), e o nosso período de hiperinflação guarda muita relação com esse fato. Um Banco Central que possui autonomia pode rejeitar a monetização da dívida, fazendo o governo atuar de forma responsável em relação à sua restrição orçamentária intertemporal.
Após o Plano Real e, principalmente, a partir da introdução do regime de metas de inflação, a autoridade monetária brasileira teve bastante autonomia. Por exemplo, fixou a taxa de juros de curto prazo de acordo com seu entendimento, mesmo com o expressivo aumento da relação dívida/PIB (após o Plano Real e até 2002). Para isso, houve reação do setor público de forma a produzir superávits primários, necessários para estabilizar esse processo de elevação do endividamento público, além do abandono das receitas de senhoriagem. Nesse tempo, decisões difíceis foram tomadas, dado o comprometimento dos grupos políticos com a baixa inflação, e o caminho percorrido foi bastante longo na construção da credibilidade para as políticas fiscal e monetária.

De volta para o presente

Nas últimas semanas, a discussão sobre a autonomia do Banco Central esteve no centro do debate eleitoral. O assunto é de suma importância, até aí tudo bem. O problema é que a maneira que o assunto vem sendo tratado não faz muito sentido. Por quê? Segundo uma série de critérios estabelecidos por Roger e Stone (2005), Tuladhar (2005) e Hammond (2012), o BACEN brasileiro é um dos que possui maior autonomia dentre aqueles que adotam o regime de meta de inflação – sendo esta autonomia firmada já dentro das diretrizes do Plano Real e reafirmada pelo próprio Lula ao assumir a presidência (clique na tabela abaixo).


A continuidade desta autonomia é também, pelo menos no discurso, consenso entre os 3 presidenciáveis com chance real de vitória. A questão deveria centrar-se, em um debate minimamente sério, na necessidade (ou não) de institucionalizar esta autonomia, isto é, firmar em lei a independência do BACEN para o cumprimento de seu objetivo único de conservar o poder de compra da moeda: o que, dentro da proposta da candidata Marina Silva, significa basicamente permitir mandato fixo ao presidente da referida instituição. Nessa perspectiva sim, há visões distintas. Dilma e Aécio acham que a autonomia operacional seria suficiente.
No cenário econômico atual existe a percepção de que o último governo seria complacente com taxas de inflação fora da meta – o teto da meta teria se tornado o centro da meta – indicando que o BACEN estaria sob pressão política para baixar a Selic, não perseguindo a meta de inflação estipulada. Deste modo, tornar lei a independência de nossa autoridade monetária seria uma boa iniciativa para recobrar sua credibilidade e tornar crível para os agentes econômicos à crença no compromisso do BACEN em perseguir seu objetivo de manter o poder de compra da moeda.
Assim, ao contrário do propagado no horário eleitoral, a legalização da autonomia do BACEN garantiria uma menor influência externa (do próprio governo) na sua tomada de decisão, permitindo maior eficiência no combate a inflação.

*Felipe Bastos, uma das novas contratações do Leruaite, foi responsável pela maior parte do trabalho. Yuri Lacerda vem aí.

terça-feira, 25 de março de 2014

Ponto eletrônico e produtividade nas federais

A polêmica está no ar. Docentes e discentes dividem suas opiniões em relação a instalação ou não do ponto eletrônico nas universidades federais. Os que são contra argumentam pelo lado da produtividade. Já os que são a favor falam da falta de comprometimento de alguns servidores que sequer chegam a trabalhar 6 horas por dia.

É preciso, então, ir buscar no setor privado  um modelo que consiga conciliar estes fatores, de modo a aumentar a produtividade média dentro do meio acadêmico público. O modelo em questão é conhecido como "Modelo Flexível de Trabalho." Baseia-se na conciliação entre a vida pessoal e profissional de cada trabalhador, dando-lhes mais liberdade com relação aos seus horários de trabalho e maior comprometimento com seus deveres.

É possível ver, em locais onde esta metodologia ainda não é utilizada, trabalhadores "cozinhando o tempo" quando suas demandas de trabalho estão em baixa. O empregador, seja ele o Estado ou uma empresa, precisa conhecer os períodos em que as demandas de trabalho são baixas e altas, realocando de maneira mais eficiente o tempo utilizado pelo empregado.

A Bain&Company realizou uma pesquisa mostrando que cerca de 20% dos homens e 40% das mulheres já utilizaram ou continuam utilizando este tipo de modelo. Enquanto que 80% dos homens e 90% das mulheres tem interesse de utilizá-lo.

O maior índice de aceitação e busca do modelo pelas mulheres dá-se, segundo a Bain&Comany, principalmente pelas especificidades femininas, como a maternidade.

Dado o que foi apontado, é possível que o Estado, em conjunto com seus servidores, cheguem a um melhor acordo sobre que metodologia utilizar dentro das universidades. Adequando os horários a demanda de trabalho de cada servidor e cobrando-os por resultados mais eficientes seja na área pedagógica ou científica. 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Competitividade no Brasil e AL (PARTE I)


Em nosso primeiro post sobre desenvolvimento econômico (aqui) estabelecemos uma relação entre corrupção, eficiência da gestão pública e nível de renda per capita para um conjunto de países latino-americanos. Sabemos que esses fatores institucionais explicam apenas de forma parcial a diferença de riqueza entre países ao longo do tempo. Então, a ideia, nessa parte I (tem parte II, talvez parte III), é traçar um paralelo entre uma medida mais abrangente e o grau de desenvolvimento das nações. E a medida que vamos utilizar é o Índice de Competitividade Global (ICG). Esse índice é calculado e publicado pelo Fórum Econômico Mundial (aqui) e procura classificar os países de acordo com o nível de competitividade de suas respectivas economias, se baseando em mais de 100 indicadores divididos em 12 pilares: infraestrutura, instituições, ambiente macroeconômico, saúde e educação básica, educação e formação de nível superior, eficiência no mercado de trabalho, eficiência no mercado de bens, sofisticação dos negócios, inovação, tamanho do mercado, desenvolvimento do mercado financeiro e acesso à tecnologia. Nesse primeiro momento, vamos trabalhar com o ICG geral (que agrupa os 12 pilares em seu cálculo)
Perceba, a competitividade é um fator determinante para a produtividade. E a produtividade determina o nível de prosperidade que uma economia pode alcançar. Ela influencia a taxa de retorno do investimento que, por sua vez, é fundamental para o crescimento econômico de longo prazo. De outra forma, economias mais competitivas crescem mais rapidamente e de forma sustentada ao longo do tempo. A partir de agora, deixamos o curto prazo de lado e passamos a discutir uma agenda de médio/longo prazo que envolve ganhos de produtividade e inovação tecnológica. 
Veja que a correlação entre competitividade e renda per capita na América Latina existe e é forte (gráfico abaixo).


Entre os latino-americanos, o Brasil ocupa a terceira posição no ICG, logo atrás do Panamá e do Chile (sim, sempre ele!). Vale ressaltar que no ranking de 2012-13 estávamos na posição 48. No mais atual (2013-14) estamos em 56º lugar e o Chile é o 34º (são 148 no total). Dos 12 pilares, o Brasil manda muito bem no “tamanho do mercado” e relativamente bem na “sofisticação de negócios”. Esse último pilar se refere à qualidade de operação e estratégia das empresas e à qualidade e quantidade de fornecedores locais – quando empresas e fornecedores de um determinado setor estão interligados em grupos geograficamente próximos, a eficiência é elevada. Já o Chile se destaca por suas instituições (já sabemos disso), ambiente macroeconômico e o desenvolvimento do seu mercado financeiro.
Falando mais especificamente sobre Brasil, alguns indicadores de competitividade parecem ter se deteriorado nos últimos anos, como inflação e dívida pública (que compõem o pilar “ambiente macroeconômico”) e outros permanecem estagnados, como eficiência do governo, corrupção e confiança da população nos políticos (fazem parte do pilar “instituições”). O drama se torna maior com a falta de progresso em relação à infraestrutura, educação e comercio internacional – o fato do país ser bastante fechado à concorrência externa. Por fim, de acordo com a opinião dos empresários, os fatores mais problemáticos para a realização de negócios no Brasil, segundo o Relatório de Competitividade Global, são infraestrutura inadequada, altos impostos e a burocracia fiscal.
Então, sabendo dos problemas relacionados à competitividade, podemos inferir sobre a baixa produtividade do Brasil – a produtividade média do trabalhador brasileiro é cerca de 20% da produtividade do trabalhador americano. Volto logo!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Fortaleza: bolha pra quem?

Há ou não uma bolha imobiliária no Brasil? E em Fortaleza? Para Bob Shiller, nobel em Economia (2013), o cenário brasileiro é similar ao norte-americano pré-crise. Mas para alguns "especialistas" não há risco, pois o crédito aqui no Brasil é sustentável. 
No caso de Fortaleza, por exemplo, os números referentes ao setor imobiliário são interessantes e podem nos levar a uma análise mais crítica sobre o assunto.

Nos últimos dois anos Fortaleza liderou o ranking de capitais com redução (-32%) na venda de imóveis novos. Enquanto isso, segundo a CDL, o crédito para compra e construção cresceu 46%. Somado a estes dois fatores, ainda segundo a mesma entidade, o endividamento das famílias, referente ao crédito imobiliário, passou de 3% em 2005 para 15% 2013.

Só com estes dados, já é possível verificar que não há uma situação sustentável. Mas vamos ao último fator, que nos ajudará a analisar melhor o que está acontecendo em Fortaleza. Segundo dados da Sefin (Fortaleza), a arrecadação do ITBI (Imposto sobre a Tranmissão de Bens Imóveis) sofreu uma alteração de 58 % entre 2011 e 2013. Dado que o ITBI é cobrado sobre o valor venal do imóvel, esse aumento implica que o preço dos imóveis em Fortaleza também cresceu cerca  58% em Fortaleza. O que representa dez vezes mais que a inflação oficial de 2013.

Temos então oferta em expansão, com um preço acima do "preço de equilíbrio" e uma demanda se contraindo. Quem arcará com o excedente? É possível agora dizer que há uma bolha inflando em Fortaleza? Deixaremos essas respostas para o senso critico de nossos leitores.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Papel da Universidade

      Fala galera do leruaite! Sou o Phillipp Farias e enfim, trago minha primeira postagem nesse blog 'cába macho'. Como esse blog nos dá a oportunidade de debater diversos assuntos no âmbito econômico e que cada membro discute sobre algum tema diferente, hoje eu trago um pouco da área em que estudo. Como economista na área da educação, pretendo trazer alguns posts relacionados ao tema. 

Neste meu primeiro post, trago um pouco do debate sobre o Papel Econômico da Universidade e sua real função na sociedade. Afinal, ela é geradora de conhecimentos, ampliando o capital humano das pessoas, ou atua apenas como uma espécie de filtro em que separa os melhores alunos dos piores? Na literatura sobre o tema, há três linhas de pensamento que analisam a questão: capital humano, filtragem e "sheepskin effects".

A primeira linha de abordagem sobre a função da Universidade afirma que a mesma age como formadora de capital humano, incrementando conhecimento e habilidades aos alunos, além de formar profissionais com maior produtividade. Essa linha de pensamento pertence à teoria do capital humano. Tal teoria tem origens na década de 1960 quando os três autores da Universidade de Chicago - Schultz, Becker e Mincer -incluíram o capital humano como um dos fatores determinantes para o desenvolvimento dos países.
Conforme Iosche (2004), Schultz mostrava que a educação era um investimento consciente dos agentes em busca de maiores rendimentos no mercado de trabalho e que ela fornecia não apenas enriquecimento cultural, mas também, competências que aumentavam a produtividade do trabalhador.

Já a segunda linha de pensamento sobre o papel da Universidade defende que ela funciona apenas como um filtro, selecionando os alunos mais capacitados e que detém maior bagagem de conhecimentos e preterindo os alunos menos hábeis e com menor capacidade de aprendizado. Conforme afirma Berg (1970), o diploma serve principalmente como uma medida (imperfeita) de capacidade de desempenho ao invés de servir como uma evidência de habilidades adquiridas.
Em seu artigo, Arrow (1973) adota um modelo em que o Ensino Superior não contribui em nada para um desempenho econômico superior, servindo apenas como um dispositivo de rastreio, em meio a uma gama de indivíduos com habilidade diferentes, para os demandantes de trabalho. Arrow baseia-se na suposição de que os agentes econômicos têm informações altamente imperfeitas (os compradores de serviços de um trabalhador, por exemplo, tem informações muito pobres sobre sua produtividade). Logo, o fato de possuir um diploma serviria como um mecanismo de sinalização, já que essa informação pode ser adquirida pelo demandante de trabalho sem custos. Portanto, a Universidade serviria apenas como um mecanismo de filtragem que classifica indivíduos de diferentes habilidades para transmitir informações para os compradores de trabalho.
Iosche (2004) critica a teoria de triagem e sinalização afirmando que se ela realmente fosse válida, os salários entre bacharéis e não-instruídos convergiriam, pois, o empregador, não sabendo diferenciar quem é mais produtivo, pagaria mais a pessoas não competentes que possuíssem diploma porque ela utilizou-o como sinalizador. Entretanto, com o passar do tempo, as diferenças apareceriam e nenhum empregador pagaria a um bacharel ou doutor incompetente mais do que aquele com apenas o ensino primário. Porém, os dados mostram que essa diferença salarial permanece constante e em alguns estudos ela chega a se elevar.

Por fim, a terceira forma de abordagem sobre a função da Universidade é a literatura do “sheepskin effect”(efeito da pele de carneiro). Essa teoria está associada à segunda linha de pensamento do papel da Universidade, que é a teoria do filtro, e tem origens no final dos anos 1960 com o desenvolvimento das teorias de mercado com “informação assimétrica” por parte de economistas como Kenneth Arrow, Michael Spence e Joseph Stiglitz.
Segundo Wood (2009), esses trabalhos sobre informação assimétrica levaram rapidamente ao questionamento do pressuposto de que a educação tem valor intríseco, ou seja, de que o ensino superior fornece habilidades pessoais, sociais e cognitivas que aumentem a produtividade do trabalhador no mercado de trabalho, aumentando o seu salário. Entretanto, essa divergência salarial entre graduados e não graduados poderia ser explicada inteiramente por um efeito de credenciamento, quando os empregadores utilizam o diploma universitário como uma tela ou filtro. 
De acordo com essa teoria, tudo o que seria necessário é possuir uma “credencial” para poder transmitir valiosas informações do empregado ao empregador. Por isso, os economistas dessa linha de pensamento afirmam que o salário de um indivíduo subirá mais rápido com um ano a mais de educação quando este ano em específico render um diploma ao indivíduo. Este efeito que é o chamado “sheepskin effect”.
Para compreender melhor esse efeito, tem-se um exemplo: dois indivíduos estudaram juntos a vida escolar inteira e também fizeram o mesmo curso superior juntos. O primeiro conseguiu se formar, enquanto o segundo, por alguma razão, abandonou o curso no último ano da faculdade. Segundo essa teoria, embora os dois indivíduos tenham praticamente o mesmo nível de escolaridade, o primeiro indivíduo conseguirá maiores salários do que o segundo pelo simples fato de ele ter conseguido um diploma enquanto o segundo indivíduo não o conseguiu.
De acordo com Wood (2009), o ponto fraco da teoria do efeito da pele de carneiro é que sua existência, por si só, não é capaz de provar a teoria pura de filtragem (sinalização). Isso porque o sheepskin effect não é incompatível com a teoria do capital humano. O efeito da pele de carneiro pode indicar que os detentores de “credenciais” (diplomas) são mais produtivos, assim como a teoria do capital humano indica.

Na Tabela abaixo encontra-se uma síntese das três teorias discutidas sobre a função da Universidade:


E aí galera? Qual das três formas de abordagem acerca do Papel da Universidade vocês acham que é a mais realista e a que vocês concordam mais?  Teoria do Capital Humano, Filragem ou Sheepskin Effect? 

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Onde está nossa luz?

A energia é uma fonte fundamental para o funcionamento de uma sociedade. Sem energia não há crescimento econômico. E a escolha de uma fonte de energia envolve pesados investimentos, além de que o efeito desta escolha, determina o modelo de produção de um país.

Durante as décadas de 1960 e 1980, por exemplo, o Brasil investiu em hidroelétricas, que fornecia uma fonte relativamente limpa e barata de energia. Enquanto isso,na França, o governo investiu em energia nuclear, introduzindo um sistema igualmente eficiente, mas com diferentes custos estruturais, bem como diversas críticas de ambientalistas. Tendo a França, em seguida, revendo sua matriz energética. Assim, percebe-se que decisões no setor energético são de suma importância para a economia e a impacta por muitas décadas.

A introdução dada acima mostra a importância do planejamento a médio e longo prazo no setor de energia, bem como a necessidade de investimento no ramo, para que o mesmo possa se adequar as necessidades presentes dos indivíduos de uma sociedade. E o Brasil parece não ter notado o quão isto é importante. E vem pagando caro por isso nos últimos anos, com o alto custo da energia, que é mais um fator a aumentar o custo Brasil e os frequentes apagões que vem ocorrendo em todas as regiões do país.

O aumento da renda média do brasileiro aliada ao maior número de eletrodomésticos nas residências brasileiras e ainda, o crescimento do PIB efetivo acima do potencial em 2010, fez com que o consumo de energia aumentasse exageradamente.

Em 2012, para um trabalho da faculdade, já era possível prever o que viria a ocorrer nos anos seguintes: "Para sustentar um crescimento médio anual de 4 por cento no PIB, o Brasil terá muito o que fazer. Será preciso investir para que o crescimento se torne sustentável. Uma crise energética parece iminente, devido a falta de investimentos e ao crescimento do PIB a cima do potencial em 2010, o que fez com que o consumo de energia aumentasse exageradamente. Mas não poderá haver um crescimento sustentável se não houver investimentos, como já foi dito". 

Atualmente, embora seja um polo referencial de energia renovável, o Brasil ainda carece pela dependência da chuva para manter o reservatórios das hidroelétricas. O que e inadmissível com as tecnologias disponíveis. Muito embora isso seja de conhecimento de muitos, para o governo está tudo sob controle. E olha que ainda vem a copa por aí. Imagine um apagão em plena final do torneio....

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A Escola Austríaca de Economia

Aqui vai minha primeira contribuição para o blog.

Com tanta econometria, modelos neoclassicos/neokeynesianos é hora de ver uma abordagem distinta tanto da economia quanto da ciência econômica. Antes de começar, faço a seguinte pergunta para os leitores do Leruaite (uns 2 ou 3 leitores...):

- Você já ouviu falar ou faz ideia do que seja a  Escola Austríaca de Economia?

Raramente nos cursos de graduação em economia se fala dessa escola, pior ainda é quando falam sem saber qual é a essência da teoria austríaca. Os princípios fundamentais são os que tornam essa escola única e distinta de todas as outras. Afinal, o que diabos é essa tal  de Escola Austríaca? É muito difícil responder essa pergunta em alguns posts, mas vou tentar deixar claro alguns fundamentos teóricos utilizados pela escola austríaca a fim de dar uma certa ideia do que se trata essa escola.

PRA COMEÇAR DO COMEÇO vamos falar um pouco sobre a história da Escola Austríaca e alguns de seus principais autores: 

A Escola Austríaca de Economia surgiu em 1871, quando Carl Menger (1840-1921) publicou o seu livro Princípios de Economia Política. Foi Menger que criou a famosa teoria do valor utilidade. "[...] o principal mérito deste autor consistiu em ter sabido recolher e impulsionar uma tradição do pensamento de origem católica e europeia continental que se pode fazer remontar até ao nascimento do pensamento filosófico na Grécia e, de forma ainda mais intensa, até à tradição de pensamento jurídico, filosófico e político da Roma clássica."

Depois de Carl Menger, foi seu discípulo Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914) que deu continuidade e um importante impulso teórico na Escola Austríaca. Böhm-Bawerk foi catedrático de Economia Política em Innsbruck e depois em Viena, chegou a ser ministro do governo do Império Austro-Húngaro em várias ocasiões. Ele contribuiu para o aperfeiçoamento e divulgação da teoria subjetivista iniciada por Menger e expandiu sua aplicação para o campo teórico do capital e do juro. No seu livro Capital e Juro, onde é analisada a economia através da teoria subjetiva e dinâmica dos preços, é que se constroem as raízes da teoria austríaca do capital. 

Ludwig Edler von Mises (1881-1973) foi quem conseguiu aplicar a essência teórica iniciada por Menger em vários campos teóricos no âmbito da economia e consolidou a Escola Austríaca no século XX. Mises foi um dos mais brilhantes alunos de Böhm-Bawerk na Universidade de Viena, juntamente com J.A. Schumpeter. Mises aplicou melhor que ninguém esta concepção dinâmica do mercado a novas áreas onde não se havia ainda aplicado o ponto de vista analítico da Escola Austríaca, impulsionando o seu desenvolvimento no âmbito da teoria monetária, do crédito e dos ciclos econômicos, desenvolvendo uma refinada teoria da função empresarial como força coordenadora do mercado e depurando os fundamentos metodológicos da Escola e a teoria dinâmica como alternativa às concepções baseadas no equilíbrio." 

Friedrich August von Hayek (1899-1992) Prêmio Nobel de Economia em 1974 por seu trabalho no âmbito da teoria dos ciclos. Hayek produziu várias obras e de grande influência atualmente nos âmbitos econômicos, filosóficos e políticos. Hayek e Mises foram os mais importantes economistas da Escola Austríaca no século XX. Hayek dedicou as primeiras décadas da sua atividade acadêmica ao estudo dos ciclos, seguindo a linha teórica iniciada por Mises, mas realizando uma série de contribuições próprias de grande importância, de tal forma que o principal motivo declarado pela Academia sueca para lhe atribuir o Prêmio Nobel de 1974 foi precisamente o seu trabalho no âmbito da teoria dos ciclos, realizado durante os anos trinta do século XX. 

A Escola Austríaca se diferencia em vários aspectos das teorias econômicas convencionais. Uma das características únicas da teoria austríaca é a “praxeologia”, entendida como a lógica da ação. Tal nomenclatura foi criada por Mises para ressaltar a condição de ciência pura da ciência econômica, que mais se assemelha a lógica aplica do que as ciências naturais empíricas.

O próximo post irá analisar o conceito de Ação Humana.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Miopia revisitada e inflação

A expectativa do Leruaite para o comportamento dos preços é bem menos animadora que para o crescimento. Acreditamos que a política econômica míope tem alguma responsabilidade sobre a queda do investimento, porém muita responsabilidade sobre a aceleração da inflação. Má intenção ou objetivos políticos e eleitorais não entram nessa discussão. Além do que foi citado aqui, dividimos a tragédia em três atos.

1) O céu é o limite
A miopia começa quando Guido Mantega enterra “o mito do PIB potencial” (aqui). Entre 2003 e 2006 o PIB brasileiro cresceu, em média, 3,5%. O robusto PIB em 2007 inflou o ego do ministro da fazenda, que negou a existência de um limite para o crescimento econômico sem a contrapartida da aceleração do nível de preços. Veja que a política fiscal foi expansionista entre 2005 e 2006, bem como a partir do terceiro trimestre de 2007 (aqui). Sabemos que deslocamentos da demanda agregada, no curto prazo, afetam o produto. Após isso, o produto tende a retornar ao seu nível natural e o nível de preços tende a aumentar. A política fiscal expansionista praticada impulsionou a economia, sem falar na incrível conjuntura econômica internacional, com a alta de preços das commodities e abundância de liquidez no mercado. Ou seja, o vigoroso crescimento apresentado em 2007 não poderia ser sustentado indefinidamente, como, de fato, não foi. O ministro confundiu desvios de curto prazo com tendência de longo prazo do crescimento do PIB.

2) Intensificação dos estímulos
A existência de capacidade ociosa na economia brasileira no início do boom foi um fator importante para que houvesse queda da taxa de desemprego sem a aceleração da inflação. Nesse post (aqui) nós falamos sobre a existência de um trade-off de curto prazo entre inflação e desemprego, bem como sobre a NAIRU – taxa de desemprego que não acelera a inflação. Nesse outro post (aqui) nós estimamos a NAIRU (constante) para o período entre 2003T2 e 2012T4 e vimos que a taxa de desemprego está abaixo da NAIRU desde o segundo trimestre de 2010. Então, a intensificação das políticas fiscal e parafiscal, já esgotada a capacidade ociosa, gerou uma demanda excessiva que pressionou o nível geral de preços e deteriorou o saldo das contas externas do país. Além disso, a partir do terceiro trimestre de 2011, nesse cenário de demanda aquecida, o Banco Central passou a reduzir a taxa básica de juros. Fica fácil entender o motivo do aperto monetário a partir do segundo trimestre de 2013.   

3) Ciclo do investimento e redução da contribuição do consumo para o crescimento
Por último, reafirmamos a posição do último post sobre o desequilíbrio ocorrido em 2010. O aumento do estoque de capital da economia (importante para o aumento do PIB potencial) somente se realiza com o crescimento sustentado do investimento  e não com alguns trimestres de investimento excessivo. Veja também que o investimento, antes de influenciar o PIB potencial, é um componente importante da demanda. A tentativa de incentivá-lo com a redução da taxa de juros, oferta maciça de crédito subsidiado, desonerações tributárias e etc. veio numa hora/de uma forma errada, sendo o impacto dessas ações bem mais fraco do que o previsto (porém o seu custo não pode ser negligenciado). A falta de sensibilidade dos formuladores de política quanto ao novo patamar da contribuição do consumo das famílias para o crescimento do PIB também merece destaque. Aparentemente, o governo não se preparou para o fim do bônus, ou pensou que tudo continuaria dando certo mesmo não trabalhando para manter a sua sorte.

A confiança excessiva, refletida nas sucessivas previsões otimistas do ministro da fazenda, é um exemplo chave da miopia dos formuladores de política. O que a realidade está mostrando é que o PIB brasileiro não pode crescer 5%. Nos últimos anos a infraestrutura do país não melhorou, não houve aumento sustentado do investimento, não houve adoção de novas tecnologias num nível agregado, não houve grande acúmulo de capital humano, ainda é complicado fazer negócios no país e etc. Então, a capacidade de crescimento da economia brasileira sempre foi em torno de 3,5%. Não era diferente disso há 4-5 anos e não mudou recentemente por conta dos sucessivos tropeços da "nova matriz econômica". O que não quer dizer que as mancadas da política econômica não tenham consequências. A inflação acelerada já era prevista pela macroeconomia em nível introdutório (aqui). O próximo passo pode ser o ajuste fiscal forçado (aqui).