segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Competitividade no Brasil e AL (PARTE I)


Em nosso primeiro post sobre desenvolvimento econômico (aqui) estabelecemos uma relação entre corrupção, eficiência da gestão pública e nível de renda per capita para um conjunto de países latino-americanos. Sabemos que esses fatores institucionais explicam apenas de forma parcial a diferença de riqueza entre países ao longo do tempo. Então, a ideia, nessa parte I (tem parte II, talvez parte III), é traçar um paralelo entre uma medida mais abrangente e o grau de desenvolvimento das nações. E a medida que vamos utilizar é o Índice de Competitividade Global (ICG). Esse índice é calculado e publicado pelo Fórum Econômico Mundial (aqui) e procura classificar os países de acordo com o nível de competitividade de suas respectivas economias, se baseando em mais de 100 indicadores divididos em 12 pilares: infraestrutura, instituições, ambiente macroeconômico, saúde e educação básica, educação e formação de nível superior, eficiência no mercado de trabalho, eficiência no mercado de bens, sofisticação dos negócios, inovação, tamanho do mercado, desenvolvimento do mercado financeiro e acesso à tecnologia. Nesse primeiro momento, vamos trabalhar com o ICG geral (que agrupa os 12 pilares em seu cálculo)
Perceba, a competitividade é um fator determinante para a produtividade. E a produtividade determina o nível de prosperidade que uma economia pode alcançar. Ela influencia a taxa de retorno do investimento que, por sua vez, é fundamental para o crescimento econômico de longo prazo. De outra forma, economias mais competitivas crescem mais rapidamente e de forma sustentada ao longo do tempo. A partir de agora, deixamos o curto prazo de lado e passamos a discutir uma agenda de médio/longo prazo que envolve ganhos de produtividade e inovação tecnológica. 
Veja que a correlação entre competitividade e renda per capita na América Latina existe e é forte (gráfico abaixo).


Entre os latino-americanos, o Brasil ocupa a terceira posição no ICG, logo atrás do Panamá e do Chile (sim, sempre ele!). Vale ressaltar que no ranking de 2012-13 estávamos na posição 48. No mais atual (2013-14) estamos em 56º lugar e o Chile é o 34º (são 148 no total). Dos 12 pilares, o Brasil manda muito bem no “tamanho do mercado” e relativamente bem na “sofisticação de negócios”. Esse último pilar se refere à qualidade de operação e estratégia das empresas e à qualidade e quantidade de fornecedores locais – quando empresas e fornecedores de um determinado setor estão interligados em grupos geograficamente próximos, a eficiência é elevada. Já o Chile se destaca por suas instituições (já sabemos disso), ambiente macroeconômico e o desenvolvimento do seu mercado financeiro.
Falando mais especificamente sobre Brasil, alguns indicadores de competitividade parecem ter se deteriorado nos últimos anos, como inflação e dívida pública (que compõem o pilar “ambiente macroeconômico”) e outros permanecem estagnados, como eficiência do governo, corrupção e confiança da população nos políticos (fazem parte do pilar “instituições”). O drama se torna maior com a falta de progresso em relação à infraestrutura, educação e comercio internacional – o fato do país ser bastante fechado à concorrência externa. Por fim, de acordo com a opinião dos empresários, os fatores mais problemáticos para a realização de negócios no Brasil, segundo o Relatório de Competitividade Global, são infraestrutura inadequada, altos impostos e a burocracia fiscal.
Então, sabendo dos problemas relacionados à competitividade, podemos inferir sobre a baixa produtividade do Brasil – a produtividade média do trabalhador brasileiro é cerca de 20% da produtividade do trabalhador americano. Volto logo!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Fortaleza: bolha pra quem?

Há ou não uma bolha imobiliária no Brasil? E em Fortaleza? Para Bob Shiller, nobel em Economia (2013), o cenário brasileiro é similar ao norte-americano pré-crise. Mas para alguns "especialistas" não há risco, pois o crédito aqui no Brasil é sustentável. 
No caso de Fortaleza, por exemplo, os números referentes ao setor imobiliário são interessantes e podem nos levar a uma análise mais crítica sobre o assunto.

Nos últimos dois anos Fortaleza liderou o ranking de capitais com redução (-32%) na venda de imóveis novos. Enquanto isso, segundo a CDL, o crédito para compra e construção cresceu 46%. Somado a estes dois fatores, ainda segundo a mesma entidade, o endividamento das famílias, referente ao crédito imobiliário, passou de 3% em 2005 para 15% 2013.

Só com estes dados, já é possível verificar que não há uma situação sustentável. Mas vamos ao último fator, que nos ajudará a analisar melhor o que está acontecendo em Fortaleza. Segundo dados da Sefin (Fortaleza), a arrecadação do ITBI (Imposto sobre a Tranmissão de Bens Imóveis) sofreu uma alteração de 58 % entre 2011 e 2013. Dado que o ITBI é cobrado sobre o valor venal do imóvel, esse aumento implica que o preço dos imóveis em Fortaleza também cresceu cerca  58% em Fortaleza. O que representa dez vezes mais que a inflação oficial de 2013.

Temos então oferta em expansão, com um preço acima do "preço de equilíbrio" e uma demanda se contraindo. Quem arcará com o excedente? É possível agora dizer que há uma bolha inflando em Fortaleza? Deixaremos essas respostas para o senso critico de nossos leitores.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Papel da Universidade

      Fala galera do leruaite! Sou o Phillipp Farias e enfim, trago minha primeira postagem nesse blog 'cába macho'. Como esse blog nos dá a oportunidade de debater diversos assuntos no âmbito econômico e que cada membro discute sobre algum tema diferente, hoje eu trago um pouco da área em que estudo. Como economista na área da educação, pretendo trazer alguns posts relacionados ao tema. 

Neste meu primeiro post, trago um pouco do debate sobre o Papel Econômico da Universidade e sua real função na sociedade. Afinal, ela é geradora de conhecimentos, ampliando o capital humano das pessoas, ou atua apenas como uma espécie de filtro em que separa os melhores alunos dos piores? Na literatura sobre o tema, há três linhas de pensamento que analisam a questão: capital humano, filtragem e "sheepskin effects".

A primeira linha de abordagem sobre a função da Universidade afirma que a mesma age como formadora de capital humano, incrementando conhecimento e habilidades aos alunos, além de formar profissionais com maior produtividade. Essa linha de pensamento pertence à teoria do capital humano. Tal teoria tem origens na década de 1960 quando os três autores da Universidade de Chicago - Schultz, Becker e Mincer -incluíram o capital humano como um dos fatores determinantes para o desenvolvimento dos países.
Conforme Iosche (2004), Schultz mostrava que a educação era um investimento consciente dos agentes em busca de maiores rendimentos no mercado de trabalho e que ela fornecia não apenas enriquecimento cultural, mas também, competências que aumentavam a produtividade do trabalhador.

Já a segunda linha de pensamento sobre o papel da Universidade defende que ela funciona apenas como um filtro, selecionando os alunos mais capacitados e que detém maior bagagem de conhecimentos e preterindo os alunos menos hábeis e com menor capacidade de aprendizado. Conforme afirma Berg (1970), o diploma serve principalmente como uma medida (imperfeita) de capacidade de desempenho ao invés de servir como uma evidência de habilidades adquiridas.
Em seu artigo, Arrow (1973) adota um modelo em que o Ensino Superior não contribui em nada para um desempenho econômico superior, servindo apenas como um dispositivo de rastreio, em meio a uma gama de indivíduos com habilidade diferentes, para os demandantes de trabalho. Arrow baseia-se na suposição de que os agentes econômicos têm informações altamente imperfeitas (os compradores de serviços de um trabalhador, por exemplo, tem informações muito pobres sobre sua produtividade). Logo, o fato de possuir um diploma serviria como um mecanismo de sinalização, já que essa informação pode ser adquirida pelo demandante de trabalho sem custos. Portanto, a Universidade serviria apenas como um mecanismo de filtragem que classifica indivíduos de diferentes habilidades para transmitir informações para os compradores de trabalho.
Iosche (2004) critica a teoria de triagem e sinalização afirmando que se ela realmente fosse válida, os salários entre bacharéis e não-instruídos convergiriam, pois, o empregador, não sabendo diferenciar quem é mais produtivo, pagaria mais a pessoas não competentes que possuíssem diploma porque ela utilizou-o como sinalizador. Entretanto, com o passar do tempo, as diferenças apareceriam e nenhum empregador pagaria a um bacharel ou doutor incompetente mais do que aquele com apenas o ensino primário. Porém, os dados mostram que essa diferença salarial permanece constante e em alguns estudos ela chega a se elevar.

Por fim, a terceira forma de abordagem sobre a função da Universidade é a literatura do “sheepskin effect”(efeito da pele de carneiro). Essa teoria está associada à segunda linha de pensamento do papel da Universidade, que é a teoria do filtro, e tem origens no final dos anos 1960 com o desenvolvimento das teorias de mercado com “informação assimétrica” por parte de economistas como Kenneth Arrow, Michael Spence e Joseph Stiglitz.
Segundo Wood (2009), esses trabalhos sobre informação assimétrica levaram rapidamente ao questionamento do pressuposto de que a educação tem valor intríseco, ou seja, de que o ensino superior fornece habilidades pessoais, sociais e cognitivas que aumentem a produtividade do trabalhador no mercado de trabalho, aumentando o seu salário. Entretanto, essa divergência salarial entre graduados e não graduados poderia ser explicada inteiramente por um efeito de credenciamento, quando os empregadores utilizam o diploma universitário como uma tela ou filtro. 
De acordo com essa teoria, tudo o que seria necessário é possuir uma “credencial” para poder transmitir valiosas informações do empregado ao empregador. Por isso, os economistas dessa linha de pensamento afirmam que o salário de um indivíduo subirá mais rápido com um ano a mais de educação quando este ano em específico render um diploma ao indivíduo. Este efeito que é o chamado “sheepskin effect”.
Para compreender melhor esse efeito, tem-se um exemplo: dois indivíduos estudaram juntos a vida escolar inteira e também fizeram o mesmo curso superior juntos. O primeiro conseguiu se formar, enquanto o segundo, por alguma razão, abandonou o curso no último ano da faculdade. Segundo essa teoria, embora os dois indivíduos tenham praticamente o mesmo nível de escolaridade, o primeiro indivíduo conseguirá maiores salários do que o segundo pelo simples fato de ele ter conseguido um diploma enquanto o segundo indivíduo não o conseguiu.
De acordo com Wood (2009), o ponto fraco da teoria do efeito da pele de carneiro é que sua existência, por si só, não é capaz de provar a teoria pura de filtragem (sinalização). Isso porque o sheepskin effect não é incompatível com a teoria do capital humano. O efeito da pele de carneiro pode indicar que os detentores de “credenciais” (diplomas) são mais produtivos, assim como a teoria do capital humano indica.

Na Tabela abaixo encontra-se uma síntese das três teorias discutidas sobre a função da Universidade:


E aí galera? Qual das três formas de abordagem acerca do Papel da Universidade vocês acham que é a mais realista e a que vocês concordam mais?  Teoria do Capital Humano, Filragem ou Sheepskin Effect? 

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Onde está nossa luz?

A energia é uma fonte fundamental para o funcionamento de uma sociedade. Sem energia não há crescimento econômico. E a escolha de uma fonte de energia envolve pesados investimentos, além de que o efeito desta escolha, determina o modelo de produção de um país.

Durante as décadas de 1960 e 1980, por exemplo, o Brasil investiu em hidroelétricas, que fornecia uma fonte relativamente limpa e barata de energia. Enquanto isso,na França, o governo investiu em energia nuclear, introduzindo um sistema igualmente eficiente, mas com diferentes custos estruturais, bem como diversas críticas de ambientalistas. Tendo a França, em seguida, revendo sua matriz energética. Assim, percebe-se que decisões no setor energético são de suma importância para a economia e a impacta por muitas décadas.

A introdução dada acima mostra a importância do planejamento a médio e longo prazo no setor de energia, bem como a necessidade de investimento no ramo, para que o mesmo possa se adequar as necessidades presentes dos indivíduos de uma sociedade. E o Brasil parece não ter notado o quão isto é importante. E vem pagando caro por isso nos últimos anos, com o alto custo da energia, que é mais um fator a aumentar o custo Brasil e os frequentes apagões que vem ocorrendo em todas as regiões do país.

O aumento da renda média do brasileiro aliada ao maior número de eletrodomésticos nas residências brasileiras e ainda, o crescimento do PIB efetivo acima do potencial em 2010, fez com que o consumo de energia aumentasse exageradamente.

Em 2012, para um trabalho da faculdade, já era possível prever o que viria a ocorrer nos anos seguintes: "Para sustentar um crescimento médio anual de 4 por cento no PIB, o Brasil terá muito o que fazer. Será preciso investir para que o crescimento se torne sustentável. Uma crise energética parece iminente, devido a falta de investimentos e ao crescimento do PIB a cima do potencial em 2010, o que fez com que o consumo de energia aumentasse exageradamente. Mas não poderá haver um crescimento sustentável se não houver investimentos, como já foi dito". 

Atualmente, embora seja um polo referencial de energia renovável, o Brasil ainda carece pela dependência da chuva para manter o reservatórios das hidroelétricas. O que e inadmissível com as tecnologias disponíveis. Muito embora isso seja de conhecimento de muitos, para o governo está tudo sob controle. E olha que ainda vem a copa por aí. Imagine um apagão em plena final do torneio....