A expectativa do Leruaite para o
comportamento dos preços é bem menos animadora que para o crescimento. Acreditamos que a política econômica míope tem alguma responsabilidade sobre a
queda do investimento, porém muita responsabilidade sobre a aceleração da
inflação. Má intenção ou objetivos políticos e eleitorais não entram nessa
discussão. Além do que foi citado aqui, dividimos a tragédia em três atos.
1) O céu é o limite
A miopia começa quando Guido Mantega enterra “o mito do PIB potencial”
(aqui). Entre 2003 e 2006 o PIB brasileiro cresceu, em média, 3,5%. O
robusto PIB em 2007 inflou o ego do ministro da fazenda, que negou a existência
de um limite para o crescimento econômico sem a contrapartida da aceleração do
nível de preços. Veja que a política
fiscal foi expansionista entre 2005 e 2006, bem como a partir do terceiro
trimestre de 2007 (aqui). Sabemos que deslocamentos da demanda agregada, no
curto prazo, afetam o produto. Após isso, o produto tende a retornar ao seu
nível natural e o nível de preços tende a aumentar. A política fiscal
expansionista praticada impulsionou a economia, sem falar na incrível
conjuntura econômica internacional, com a alta de preços das commodities e abundância de liquidez no
mercado. Ou seja, o vigoroso crescimento apresentado em 2007 não poderia ser
sustentado indefinidamente, como, de fato, não foi. O ministro confundiu
desvios de curto prazo com tendência de longo prazo do crescimento do PIB.
2) Intensificação dos estímulos
A existência de capacidade ociosa na economia
brasileira no início do boom foi um
fator importante para que houvesse queda da taxa de desemprego sem a aceleração
da inflação. Nesse post (aqui) nós falamos sobre a existência de um trade-off de curto
prazo entre inflação e desemprego, bem como sobre a NAIRU – taxa de desemprego
que não acelera a inflação. Nesse outro post (aqui) nós estimamos a NAIRU (constante)
para o período entre 2003T2 e 2012T4 e vimos que a taxa de desemprego está
abaixo da NAIRU desde o segundo trimestre de 2010. Então, a intensificação das políticas fiscal e parafiscal, já esgotada
a capacidade ociosa, gerou uma demanda excessiva que pressionou o nível geral
de preços e deteriorou o saldo das contas externas do país. Além disso, a
partir do terceiro trimestre de 2011, nesse cenário de demanda aquecida, o
Banco Central passou a reduzir a taxa básica de juros. Fica fácil entender o
motivo do aperto monetário a partir do segundo trimestre de 2013.
3) Ciclo do investimento e redução da contribuição do consumo para o crescimento
Por último, reafirmamos a posição do último post sobre o desequilíbrio ocorrido em 2010. O
aumento do estoque de capital da economia (importante para o aumento do PIB potencial) somente se realiza com o crescimento sustentado do
investimento – e não com alguns trimestres de investimento excessivo. Veja também que o investimento, antes de influenciar o PIB
potencial, é um componente importante da demanda. A tentativa de incentivá-lo com a redução da taxa de juros, oferta maciça de crédito
subsidiado, desonerações tributárias e etc. veio numa hora/de uma forma errada,
sendo o impacto dessas ações bem mais fraco do que o previsto (porém o seu
custo não pode ser negligenciado). A falta de sensibilidade dos formuladores de
política quanto ao novo patamar da contribuição do consumo das famílias para o
crescimento do PIB também merece destaque. Aparentemente,
o governo não se preparou para o fim do bônus, ou pensou que tudo continuaria
dando certo mesmo não trabalhando para manter a sua sorte.
A confiança excessiva, refletida nas sucessivas previsões otimistas do ministro da fazenda, é um exemplo chave da miopia dos formuladores de política. O que a realidade está mostrando é que o PIB brasileiro não pode crescer 5%. Nos últimos anos a infraestrutura do país não melhorou, não houve aumento sustentado do investimento, não houve adoção de novas tecnologias num nível agregado, não houve grande acúmulo de capital humano, ainda é complicado fazer negócios no país e etc. Então, a capacidade de crescimento da economia brasileira sempre foi em torno de 3,5%. Não era diferente disso há 4-5 anos e não mudou recentemente por conta dos sucessivos tropeços da "nova matriz econômica". O que não quer dizer que as mancadas da política econômica não tenham consequências. A inflação acelerada já era prevista pela macroeconomia em nível introdutório (aqui). O próximo passo pode ser o ajuste fiscal forçado (aqui).
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