segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A economia dos economistas: NAIRU e inflação (Parte I)

Semana passada eu li um artigo que aborda “a economia do povo x a economia dos economistas” (aqui). A economia do povo, atualmente, vai bem. O nível de desemprego está em baixa recorde, o rendimento real está aumentando e, ao longo dos últimos anos, o padrão de consumo das famílias aumentou bastante. Essa sensação de bem-estar não seria compatível com as críticas de boa parte dos economistas em relação à política econômica do governo, que estaria deteriorando os fundamentos da economia brasileira. Caso a economia do povo continue indo bem, é difícil descartar uma reeleição da Dilma. Então, o autor do artigo questiona: “Mas será que essas duas economias, a dos economistas e a do povo, podem continuar divergindo assim por muito tempo?”. Aqui uma discussão sobre o que “três grupos de economistas” pensam sobre uma possível mudança (ou não) de postura da política econômica no futuro. Nesse e nos próximos posts (não necessariamente sequenciais) eu pretendo dar a minha suja e juvenil contribuição sobre a “economia dos economistas” para os não economistas, da forma mais didática e apartidária possível. Começaremos com uma importante aplicação empírica da macroeconomia: a curva de Phillips.
Originalmente, essa curva formalizou a existência de uma relação inversa entre a taxa de desemprego e a variação dos salários nominais. A ideia é estabelecer relações simples no processo de interação entre os agentes no mercado de trabalho. Em momentos de expansão da atividade econômica, o mercado de trabalho fica mais aquecido e o desemprego cai. Uma taxa de desemprego menor aumenta o poder de barganha dos trabalhadores e leva a um aumento do salário nominal. Expandindo o raciocínio, ao menos parte desse aumento de salário é repassada aos preços fixados pelas empresas, o que aumenta o nível geral de preços. Em resposta ao aumento do nível geral de preços, os trabalhadores, na próxima negociação de contratos, pedem um aumento no salário nominal. Esse aumento de custos novamente é repassado aos preços fixados pelas empresas e assim sucessivamente, formando uma espiral de preços e salários. Nesse sentido, os formuladores de política econômica poderiam manter uma taxa de desemprego mais baixa para sempre, desde que estivessem dispostos a tolerar uma inflação mais alta.
Desde a publicação desse estudo, em 1958, muita coisa mudou em relação à curva de Phillips e não temos espaço para aprofundar todos os detalhes. Porém, esse trade-off entre inflação e desemprego não persiste indefinidamente, pois ignora o processo de formação de expectativas dos agentes. Uma formulação razoavelmente recente relaciona a variação da taxa de inflação e a taxa de desemprego, envolvendo o conceito de taxa de desemprego não aceleradora da inflação (NAIRU). A NAIRU seria uma espécie de “taxa de desemprego de equilíbrio”, que manteria a taxa de inflação constante, na ausência de quaisquer choques de oferta (como, por exemplo, os choques no preço do petróleo na década de 70). O raciocínio empregado por essa formulação é o seguinte: quando a taxa de desemprego efetiva é menor que a de equilíbrio, a taxa de inflação aumenta continuamente. Então, faremos considerações a respeito do mercado de trabalho brasileiro por meio da comparação com essa “taxa de desemprego de equilíbrio”.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário