segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A economia dos economistas: NAIRU e inflação (Parte II)

A partir de agora, nós faremos um exercício econométrico rápido e maroto para ter uma noção superficial da tal da NAIRU para o Brasil, entre 2003 e 2012. O modelo é linear e envolve inflação efetiva, inflação esperada (com expectativa formada no trimestre anterior) e taxa de desemprego – modelo padrão encontrado nos livros de macroeconomia/econometria. Os dados (dúvidas nos comentários) foram convertidos, por média, para base trimestral. O primeiro trimestre de 2003 foi excluído para reduzir a contaminação dos preços, devido ao “efeito-Lula”, no final de 2002. Os três trimestres disponíveis de 2013 foram excluídos porque houve forte contenção dos preços administrados por parte do governo. A estimação foi realizada por mínimos quadrados ordinários.


A NAIRU constante implícita nesse resultado é 7,46% (1,81/0,2426). Esse valor nos dá apenas uma noção da “taxa de desemprego de equilíbrio”, pois o modelo é bastante simplificado. Além disso, assumimos uma NAIRU constante ao longo de toda a amostra (provavelmente ela está menor, em torno de 6-6,5%). Economia não é uma ciência exata e nem tratamos esse valor como um limiar para que o governo passe a buscar o desemprego. Com as devidas ressalvas, prosseguiremos.

O gráfico acima mostra a evolução da taxa de desemprego no Brasil, de 2003-T1 até 2013-T3, que no início do governo Lula era de, aproximadamente, 12%, bem acima da NAIRU que nós estimamos. Existia um grande espaço para a redução do desemprego, sem a contrapartida da aceleração do nível de preços. Ou seja, uma política econômica de curto prazo, que estimulasse a demanda agregada, contribuiria para a redução da taxa de desemprego sem, necessariamente, aumentar continuamente a taxa de inflação. Contudo, a partir da metade do ano de 2010, a taxa de desemprego persistiu abaixo do valor da (nossa) NAIRU, atingindo sucessivas mínimas históricas (o último valor da série é 5,43%). Nesse contexto, há pouca possibilidade da taxa de desemprego continuar caindo sem a aceleração do nível de preços – a inflação de preços livres (que não sofrem interferência do governo como o caso da energia, combustível, tarifas de ônibus, etc.) acumulada em 12 meses é de 7,14% (out/2013). Novamente, não estou dizendo que o governo deveria buscar o aumento do desemprego. Porém, a partir do momento em que o mercado de trabalho está pressionado, olhar para as condições de oferta da economia é essencial (aqui)

2 comentários:

  1. Muito bom. Agora me diga, como economista, e principalmente, como "defensor" da economia dos economistas, como poderíamos (Brasil) mudar isso? Mudar no sentido de diminuir nossa inflação sem ter que aumentar o desemprego, se isso fosse possível.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pelo comentário, Caio! Na verdade, nem todos os economistas possuem a mesma visão da economia, ou seja, diferentes soluções podem ser discutidas. Nesse post, não quis me aprofundar no assunto para não correr o risco de ser vago e espero responder sua pergunta de forma mais profunda no futuro. Por agora, eu posso dizer que é hora de olhar para a oferta agregada, o que envolve aspectos de longo prazo. Aumentar a produtividade do trabalho, com a introdução de máquinas/novas tecnologias, acumulação de capital humano, etc. seria importante. O link que eu deixei mostra que o Brasil é pouco competitivo e isso desfavorece muito o investimento privado e o progresso tecnológico. Nos rankings de educação o Brasil não costuma ser um dos primeiros. É preciso mudar esse quadro (o que demanda mais tempo que um mandato) para que o país possa crescer sem pressões inflacionárias. O objetivo final do post foi mostrar que já passou o momento de estimular a demanda e agora é olhar para a oferta. Espero que você volte a comentar!

    ResponderExcluir