terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Papel da Universidade

      Fala galera do leruaite! Sou o Phillipp Farias e enfim, trago minha primeira postagem nesse blog 'cába macho'. Como esse blog nos dá a oportunidade de debater diversos assuntos no âmbito econômico e que cada membro discute sobre algum tema diferente, hoje eu trago um pouco da área em que estudo. Como economista na área da educação, pretendo trazer alguns posts relacionados ao tema. 

Neste meu primeiro post, trago um pouco do debate sobre o Papel Econômico da Universidade e sua real função na sociedade. Afinal, ela é geradora de conhecimentos, ampliando o capital humano das pessoas, ou atua apenas como uma espécie de filtro em que separa os melhores alunos dos piores? Na literatura sobre o tema, há três linhas de pensamento que analisam a questão: capital humano, filtragem e "sheepskin effects".

A primeira linha de abordagem sobre a função da Universidade afirma que a mesma age como formadora de capital humano, incrementando conhecimento e habilidades aos alunos, além de formar profissionais com maior produtividade. Essa linha de pensamento pertence à teoria do capital humano. Tal teoria tem origens na década de 1960 quando os três autores da Universidade de Chicago - Schultz, Becker e Mincer -incluíram o capital humano como um dos fatores determinantes para o desenvolvimento dos países.
Conforme Iosche (2004), Schultz mostrava que a educação era um investimento consciente dos agentes em busca de maiores rendimentos no mercado de trabalho e que ela fornecia não apenas enriquecimento cultural, mas também, competências que aumentavam a produtividade do trabalhador.

Já a segunda linha de pensamento sobre o papel da Universidade defende que ela funciona apenas como um filtro, selecionando os alunos mais capacitados e que detém maior bagagem de conhecimentos e preterindo os alunos menos hábeis e com menor capacidade de aprendizado. Conforme afirma Berg (1970), o diploma serve principalmente como uma medida (imperfeita) de capacidade de desempenho ao invés de servir como uma evidência de habilidades adquiridas.
Em seu artigo, Arrow (1973) adota um modelo em que o Ensino Superior não contribui em nada para um desempenho econômico superior, servindo apenas como um dispositivo de rastreio, em meio a uma gama de indivíduos com habilidade diferentes, para os demandantes de trabalho. Arrow baseia-se na suposição de que os agentes econômicos têm informações altamente imperfeitas (os compradores de serviços de um trabalhador, por exemplo, tem informações muito pobres sobre sua produtividade). Logo, o fato de possuir um diploma serviria como um mecanismo de sinalização, já que essa informação pode ser adquirida pelo demandante de trabalho sem custos. Portanto, a Universidade serviria apenas como um mecanismo de filtragem que classifica indivíduos de diferentes habilidades para transmitir informações para os compradores de trabalho.
Iosche (2004) critica a teoria de triagem e sinalização afirmando que se ela realmente fosse válida, os salários entre bacharéis e não-instruídos convergiriam, pois, o empregador, não sabendo diferenciar quem é mais produtivo, pagaria mais a pessoas não competentes que possuíssem diploma porque ela utilizou-o como sinalizador. Entretanto, com o passar do tempo, as diferenças apareceriam e nenhum empregador pagaria a um bacharel ou doutor incompetente mais do que aquele com apenas o ensino primário. Porém, os dados mostram que essa diferença salarial permanece constante e em alguns estudos ela chega a se elevar.

Por fim, a terceira forma de abordagem sobre a função da Universidade é a literatura do “sheepskin effect”(efeito da pele de carneiro). Essa teoria está associada à segunda linha de pensamento do papel da Universidade, que é a teoria do filtro, e tem origens no final dos anos 1960 com o desenvolvimento das teorias de mercado com “informação assimétrica” por parte de economistas como Kenneth Arrow, Michael Spence e Joseph Stiglitz.
Segundo Wood (2009), esses trabalhos sobre informação assimétrica levaram rapidamente ao questionamento do pressuposto de que a educação tem valor intríseco, ou seja, de que o ensino superior fornece habilidades pessoais, sociais e cognitivas que aumentem a produtividade do trabalhador no mercado de trabalho, aumentando o seu salário. Entretanto, essa divergência salarial entre graduados e não graduados poderia ser explicada inteiramente por um efeito de credenciamento, quando os empregadores utilizam o diploma universitário como uma tela ou filtro. 
De acordo com essa teoria, tudo o que seria necessário é possuir uma “credencial” para poder transmitir valiosas informações do empregado ao empregador. Por isso, os economistas dessa linha de pensamento afirmam que o salário de um indivíduo subirá mais rápido com um ano a mais de educação quando este ano em específico render um diploma ao indivíduo. Este efeito que é o chamado “sheepskin effect”.
Para compreender melhor esse efeito, tem-se um exemplo: dois indivíduos estudaram juntos a vida escolar inteira e também fizeram o mesmo curso superior juntos. O primeiro conseguiu se formar, enquanto o segundo, por alguma razão, abandonou o curso no último ano da faculdade. Segundo essa teoria, embora os dois indivíduos tenham praticamente o mesmo nível de escolaridade, o primeiro indivíduo conseguirá maiores salários do que o segundo pelo simples fato de ele ter conseguido um diploma enquanto o segundo indivíduo não o conseguiu.
De acordo com Wood (2009), o ponto fraco da teoria do efeito da pele de carneiro é que sua existência, por si só, não é capaz de provar a teoria pura de filtragem (sinalização). Isso porque o sheepskin effect não é incompatível com a teoria do capital humano. O efeito da pele de carneiro pode indicar que os detentores de “credenciais” (diplomas) são mais produtivos, assim como a teoria do capital humano indica.

Na Tabela abaixo encontra-se uma síntese das três teorias discutidas sobre a função da Universidade:


E aí galera? Qual das três formas de abordagem acerca do Papel da Universidade vocês acham que é a mais realista e a que vocês concordam mais?  Teoria do Capital Humano, Filragem ou Sheepskin Effect? 

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