segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Ajuste fiscal: preliminares

A crise da zona do euro fez com que a palavra “austeridade” voltasse à tona. Não somente na Europa, onde o assunto é urgente, mas também nos Estados Unidos, onde existiu um impasse no congresso tanto em relação ao chamado “abismo fiscal” quanto à elevação do teto da dívida pública norte-americana. Com efeito, os déficits orçamentários de hoje tornam-se a dívida de amanhã – o ponto de partida é a existência de uma restrição orçamentária intertemporal que o governo deve respeitar. Sucessivos déficits podem elevar a dívida pública a um nível insustentável, ou, dada a natureza efêmera da confiança, causar um temor de default no mercado financeiro e ocasionar a chamada profecia autorrealizável. De toda forma, isso acarretaria uma crise fiscal. Antes do colapso, os mercados, preocupados com a possibilidade de calote, exigiriam prêmios de risco cada vez mais altos e a rolagem da dívida pública ficaria cada vez mais difícil. Todo esse desequilíbrio causado pela má gestão do orçamento público sufocaria qualquer possibilidade de crescimento econômico. Quando uma economia chega a esse ponto, os credores exigem um ajuste fiscal – corte de gastos/aumento de impostos como sinalização de que o país está comprometido a assumir suas responsabilidades e cumprir seus contratos.
Porém, o momento do ajuste fiscal está no centro do debate. Seria austeridade, em tempos de crise, “austericídio”? Um corte de gastos ou aumento de impostos poderia prejudicar ainda mais a economia de um país em crise, reduzindo a demanda agregada e agravando a conjuntura recessiva. Essa abordagem pró-cíclica é considerada autodestrutiva. Porém, como tratado anteriormente, o receio do calote gera uma crise de confiança nos mercados. O país endividado, que não tomou a decisão de reduzir seu déficit orçamentário, jamais teria credibilidade suficiente para tomar empréstimos e rolar sua dívida, embora a ideia de que o ajuste fiscal deva ser realizado pura e simplesmente para acalmar os mercados seja extremamente simplista – o ponto central, aqui, é a reestruturação do canal de crédito. De toda forma, o que se vê, no mundo real, é que poucos países têm condições de realizar políticas fiscais contracíclicas (aumento de gastos/corte de impostos para estimular a economia quando o ciclo econômico é desfavorável), somente os que em momentos de estabilidade e prosperidade reduziram seu déficit e sua dívida pública de alguma forma, ou aqueles que possuem sólida reputação ante os seus credores. Mais do que isso, em momentos de crise, é comum a realização de ajustes fiscais forçados.  


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