segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Miopia → Vulnerabilidade → Austeridade forçada

Reinhart e Rogoff*, em 2010, publicaram um famoso (e polêmico) artigo que aborda o tema dívida pública x crescimento econômico. Basicamente, a conclusão foi que o alto nível de dívida pública (>=90% do PIB) afeta negativamente o crescimento das economias avançadas – no caso dos países emergentes, mesmo um nível menor de dívida pública (60% do PIB) está associado a um menor crescimento do PIB e pressões inflacionárias. Ao contrário do que muitos pensam, no contexto de excesso de dívida pública (o caso de certos países da zona do euro), o estudo não serve de base para a realização de medidas de austeridade excessivas e imediatas, e nem é esse o argumento dos autores. O foco está nos custos incorridos pela sociedade associados à dívida pública excessiva. Outros estudos** concluem o oposto, que os níveis elevados de dívida pública (em % do PIB) foram impulsionados por baixas taxas de crescimento, justificando uma política fiscal expansionista como forma de estimular a economia. A austeridade fiscal não seria a melhor maneira de curar as finanças públicas, pois agrava o ambiente recessivo, que reduz o PIB e aumenta, por conseguinte, a relação dívida/PIB. De toda forma, os dois argumentos são discutíveis.
Lorenzo Smaghi encontra um modo de deixar o debate sobre ajuste fiscal mais encorpado, em que a relação entre austeridade e crescimento é mais complexa. Em seu texto recente (aqui) argumenta que, para chegar nesse ponto insustentável, em que “a austeridade é a única opção”, estas economias da zona do euro sofreram com a miopia/estupidez de seus formuladores de política antes da crise econômica. Problemas estruturais fundamentais não enfrentados como o baixo acúmulo de capital humano, baixo crescimento da produtividade, endividamento excessivo - mesmo antes da eclosão da crise -, entre outros, contribuem para o fraco crescimento desses países. Ou seja, no limite, a austeridade fiscal imposta atualmente foi causada pelo baixo crescimento potencial desses países (por ausência de reformas pró-crescimento), e não o contrário. Enfim, vale, ao menos, a reflexão.  

Ausência de reformas pró-crescimento, baixo crescimento potencial e acúmulo excessivo de dívida pública. Qualquer semelhança...

* REINHART, C. M..; ROGOFF, K. S. “Growth in a Time of Debt”. The American Economic Review, v. 100(2), p. 573-78, maio, 2010.

** Por exemplo, TAYLOR, L.; PROAÑO, C. R.; CARVALHO, L.; BARBOSA, N. Fiscal deficits, economic growth and government debt in the USA. Cambridge Journal of Economics,v.36, p.189-204, 2012.

2 comentários:

  1. Aproveitando a deixa com o “qualquer semelhança”, comento um pouco sobre a dívida brasileira.
    Embora os dados estejam ai e seja claro o perigo fiscal, talvez a melhor forma de avaliar o caso brasileiro é observar a confiança do investidor/empresário. O excesso de “contabilidade criativa” e a insistência descabida em um “ataque especulativo fiscal”, termo que aprendi com o governo atual, parecem afetar diretamente a economia nacional.

    O caso, é bem verdade, não é dos piores. Mas o governo precisa admitir o problema e enfrentá-lo. Culpar o mercado não vai resolver.

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    1. Agradeço o comentário. O primeiro do blog, inclusive! Concordo que a situação não é crítica. Em breve, falaremos sobre sustentabilidade da dívida pública e as características do ajuste fiscal brasileiro. Espero que você volte a comentar!

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