Reinhart e Rogoff*, em 2010, publicaram um famoso (e polêmico) artigo
que aborda o tema dívida pública x crescimento econômico. Basicamente, a conclusão
foi que o alto nível de dívida pública (>=90% do PIB) afeta negativamente o
crescimento das economias avançadas – no caso dos países emergentes, mesmo um
nível menor de dívida pública (60% do PIB) está associado a um menor
crescimento do PIB e pressões inflacionárias. Ao contrário do que muitos
pensam, no contexto de excesso de dívida pública (o caso de certos países da zona do euro), o
estudo não serve de base para a realização de medidas de austeridade excessivas
e imediatas, e nem é esse o argumento
dos autores. O foco está nos custos incorridos pela sociedade associados à dívida
pública excessiva. Outros estudos** concluem o oposto, que os níveis elevados
de dívida pública (em % do PIB) foram impulsionados por baixas taxas de
crescimento, justificando uma política fiscal expansionista como forma de
estimular a economia. A austeridade fiscal não seria a melhor maneira de curar
as finanças públicas, pois agrava o ambiente recessivo, que reduz o PIB e aumenta,
por conseguinte, a relação dívida/PIB. De toda forma, os dois argumentos são
discutíveis.
Lorenzo Smaghi encontra um modo de deixar o debate sobre ajuste fiscal
mais encorpado, em que a relação entre austeridade e crescimento é mais
complexa. Em seu texto recente (aqui) argumenta que, para chegar nesse
ponto insustentável, em que “a austeridade é a única opção”, estas economias da
zona do euro sofreram com a miopia/estupidez de seus formuladores de política antes da crise econômica. Problemas estruturais fundamentais não enfrentados como o
baixo acúmulo de capital humano, baixo crescimento da produtividade,
endividamento excessivo - mesmo antes da eclosão da crise -, entre outros, contribuem
para o fraco crescimento desses países. Ou seja, no limite, a austeridade
fiscal imposta atualmente foi causada pelo baixo crescimento potencial desses países
(por ausência de reformas pró-crescimento), e não o contrário. Enfim, vale, ao menos, a reflexão.
Ausência de reformas pró-crescimento, baixo crescimento potencial e
acúmulo excessivo de dívida pública. Qualquer semelhança...
* REINHART, C. M..; ROGOFF, K. S. “Growth in a
Time of Debt”. The American Economic
Review, v. 100(2), p. 573-78, maio, 2010.
** Por exemplo, TAYLOR, L.; PROAÑO,
C. R.; CARVALHO, L.; BARBOSA, N. Fiscal deficits, economic growth and government
debt in the USA. Cambridge Journal of
Economics,v.36, p.189-204, 2012.
Aproveitando a deixa com o “qualquer semelhança”, comento um pouco sobre a dívida brasileira.
ResponderExcluirEmbora os dados estejam ai e seja claro o perigo fiscal, talvez a melhor forma de avaliar o caso brasileiro é observar a confiança do investidor/empresário. O excesso de “contabilidade criativa” e a insistência descabida em um “ataque especulativo fiscal”, termo que aprendi com o governo atual, parecem afetar diretamente a economia nacional.
O caso, é bem verdade, não é dos piores. Mas o governo precisa admitir o problema e enfrentá-lo. Culpar o mercado não vai resolver.
Agradeço o comentário. O primeiro do blog, inclusive! Concordo que a situação não é crítica. Em breve, falaremos sobre sustentabilidade da dívida pública e as características do ajuste fiscal brasileiro. Espero que você volte a comentar!
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